Um dos principais autores do romance regionalista é José de Alencar com sua famosa obra “O Sertanejo”, que mostra o interior do Nordeste (Ceará, terra natal do autor) no século XVIII e onde se passa a história de Arnaldo, vaqueiro cearense que luta pelo amor da filha do dono da fazenda em que trabalha, D. Flor. Arnaldo é apresentado no romance como o homem simples do campo: primeiro vaqueiro de uma fazenda, conhecedor da natureza (conhece os animais e as matas) e participa das cavalhadas, como aconteciam na Europa no período medieval. O cotidiano do vaqueiro serve para mostrar como era a vida no nordeste brasileiro e exalta os costumes do interior.
“O Sertanejo” é o último romance de Alencar e apresenta todas as suas características literárias: amor idealizado, nacionalismo e etc..., como vemos nessa passagem:
“Esta imensa campina, que se dilata por horizontes infindos, é o sertão de minha terra natal.
Aí campeia o destemido vaqueiro cearense, que à unha de cavalo acossa o touro indômito no cerrado mais espesso, e o derriba pela cauda com admirável destreza...
... Quando te tomarei a ver, sertão da minha terra, que atravessei há muitos anos na aurora serena e feliz da minha infância?
Quando tornarei a respirar tuas auras impregnadas de perfumes agrestes, nas quais o homem comunga a seiva dessa natureza possante?
De dia em dia aquelas remotas regiões vão perdendo a primitiva rudeza, que tamanho encanto lhes infundia.”.
Nota-se que Alencar retrata apaixonadamente a paisagem do sertão, mostrando características culturais, como o comportamento individual e o folclore, e características geográficas, como no trecho a seguir:
“Nessa época o sertão parece a terra combusta do profeta; dir-se-ia que por aí passou o fogo e consumiu toda a verdura, que é o sorriso dos campos e a gala das árvores, ou o seu manto, como chamavam poeticamente os indígenas.
Pela vasta planura que se estende a perder de vista, se erriçam os troncos ermos e nus com os esgalhos rijos e encarquilhados, que figuram o vasto ossuário da antiga floresta.
O capim, que outrora cobria a superfície da torra do verde alcatifa, roído até à raiz pelo dente faminto do animal e triturado pela pata do gado, ficou reduzido a uma cinza espêssa que o menor bafejo do vento levanta em nuvens pardacentas.
O sol ardentíssimo côa através do mormaço da terra abrasada uns raios baços que vestem de mortalha lívida e poenta os esqueletos das árvores, enfileirados uns após outros como uma lúgubre procissão de mortos.
Apenas ao longe se destaca a folhagem de uma oiticica, de um joazeiro ou de outra árvore vivaz do sertão, que elevando a sua copa virente por sôbre aquela devastação profunda, parece o derradeiro arranco da seiva da terra exhausta a remontar ao céu.
Êstes ares em outra época povoados do turbilhões de pássaros loquazes, cuja brilhante plumagem rutilava aos raios do sol, agora ermos e mudos como a terra, são apenas cortados pelo vôo pesado dos urubús que farejam a carniça”.
Outro autor do regionalismo foi Visconde de Taunay que tem como principal obra romântica “Inocência” que se passa no interior do Mato Grosso, local descrito como harmonioso, pacífico e ideal, se referindo a uma tradição clássica. Visconde, através de formas de tratamento, caracteriza os personagens e o típico jeito do sertanejo, como no trecho: “todo o dia, vendo a hora, nhá bate o queixo, nhor-sim”.
Inocência conta a história de amor impossível entre Cirino (médico) e Inocência: “cabelos longos e pretos, nariz fino, olhos matadores, beleza deslumbrante e incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca pequena e queixo admiravelmente torneado” e filha de Pereira, pequeno proprietário que exerce for vigilância sobre a filha e impossibilita a relação amorosa entre os jovens pois Inocência fora prometida em casamento à Manecão, um rústico vaqueiro da região (o casamento como acordo entre famílias era uma característica do interior, e assim, também apareceu nos romances regionalistas).
Visconde de Taunay
Taunay fez de “Inocência” uma das obras-primas do romance regionalista por seu conhecimento dos costumes do país, adquirindo em inúmeras viagens na condição de militar, e que em outros livros não era apresentado pelos autores não conhecerem o país. E comprometia a qualidade de obras regionalistas.
Para deixar a obra mais regionalista inda, o autor criou diálogos com a linguagem regional e natural dos camponeses: "Nocência", "Por que se tocou assim no quarto", "é bom não se canhar as-sim", "sestiando", "Nhor-sim", "quer mecê". Deve-se ressaltar que Visconde de Taunay também utiliza a linguagem culta e reforça o amor único e idealizado (característica romântica), que, por sua impossibilidade, leva Inocência à morte.
Taunay também usa a técnica de corte, o que faz com que o leitor queira continuar a leitura para saber o desfecho da trama.
Franklin Távora, outro autor importante no romance regionalista, escreveu uma grande obra chamada “O Cabeleira” (1876) que conta o passado de Pernambuco, através das aventuras do cangaceiro José Gomes, O Cabeleira, que se transformou pelo amor (o amor que regenera e purifica também era característica romântica). José, pela influência do pai, Joaquim Gomes, Teodósio, o astucioso amigo e outros comparsas, aterrorizou o Pernambuco em 1776, mas quando ele se apaixonou por Luísa, fogiu com ela e começou a se transformar, apesar de instintivamente ainda usar a violência.
Segundo Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Pontara “o texto procura levar o leitor a entender que circunstâncias ambientais contribuem para tornar José Gomes (o personagem principal) um bandido”. Esta obra foi muito importante , pois era a primeira ser situada no nordeste. O livro também dispõe de partes Naturalistas e outras Românticas, quando ele age por instinto, o que seria o Naturalismo, e quando ele age como um herói e o fato das mulheres serem todas boas e puras, o que seria o Romantismo (idealização da mulher).
Nota-se também que Távora mescla em algumas partes do texto a poesia, e a pesquisa que realizou acerca do cangaceiro atribui valor documental à obra, sendo destaque a caracterização da seca. O Cabeleira, mostra o nacionalismo desde o prefácio:
“As letras têm, como a política, um certo caráter geográfico; mais no Norte, porém, do que no Sul, abundam os elementos para a formação de uma literatura propriamente brasileira, filha da terra. A razão é óbvia: o Norte ainda não foi invadido como está sendo o Sul de dia em dia pelo estrangeiro. (...)
Temos o dever de levantar ainda com luta e esforço os nobres foros dessa região, exumar seus tipos legendários, fazer conhecidos seus nomes, suas lendas, sua poesias máscula, nova, vívida e louçã...”
Mas o nacionalismo não é apresentado apenas no sentido de qualificação d região, mas também como crítica à sociedade brasileira:
“A justiça executou o Cabeleira por crimes que tiveram sua principal origem na ignorância e na pobreza.
Mas o responsável de males semelhantes não será primeiro que todos a sociedade que não cumpre o dever de difundir a instrução, fonte da moral, e de organizar o trabalho, fonte de riqueza?”
A partir de "O Cabeleira", Hiroshi e Leandro Assis, decidiram escrever um roteiro para uma história em quadrinhos inspirados no personagem. A HQ foi publicada no início de 2007 editora Desiderata.
Franklin Távora também foi um ferrenho crítico de José de Alencar e do sucesso editorial e crítico do autor, acusando-o de não honrar os escritores do Norte, descuidando da região natal em sua carreira literária e também em ralação aos métodos de criação de Alencar em relação ao folclore, como se vê no trecho a seguir:
“O conhecimento da língua indigena é o melhor criterio para a nacionalidade da litteratura,” diz-nos elle na sua carta final. Ora, como ha de conhecer essa lingua quem não penetrou nas tribus, quem não se achou em contacto com o povo, quem a não estudou nos tempos primevos, porque era impossivel fazel-o, nem mesmo nos tempos actuaes em que já o verdadeiro caracter indigena decahiu e se corrompeu? Ha de forçosamente estudal-a nas obras e diccionarios que nos deixaram os nossos predecessores. Pois bem: elle acha que “de quantas producções se publicaram sobre o thema indigena, nenhuma realisava a poesia nacional;” e quanto aos diccionarios é o primeiro a tachal-os de “imperfeitos e espúrios.” Ao proprio G. Dias nega o condão de realisador da poesia americana. Diga-nos quem puder e quizer: onde foi J. de Alencar buscar esse molde de poesia selvagem, fóra dos diccionarios, que “são espurios,” fóra das producções publicadas, que “não a realisam,” fóra dos modelos dos mestres que “só exprimem idéas proprias do homem civilisado, e que não é verossimil tivesse no estado de natureza?” No seu gabinete de improvisador”.