quinta-feira, 30 de abril de 2009

Principais Autores E Obras Do Romance Regionalista


Um dos principais autores do romance regionalista é José de Alencar com sua famosa obra “O Sertanejo”, que mostra o interior do Nordeste (Ceará, terra natal do autor) no século XVIII e onde se passa a história de Arnaldo, vaqueiro cearense que luta pelo amor da filha do dono da fazenda em que trabalha, D. Flor. Arnaldo é apresentado no romance como o homem simples do campo: primeiro vaqueiro de uma fazenda, conhecedor da natureza (conhece os animais e as matas) e participa das cavalhadas, como aconteciam na Europa no período medieval. O cotidiano do vaqueiro serve para mostrar como era a vida no nordeste brasileiro e exalta os costumes do interior.

“O Sertanejo” é o último romance de Alencar e apresenta todas as suas características literárias: amor idealizado, nacionalismo e etc..., como vemos nessa passagem:

“Esta imensa campina, que se dilata por horizontes infindos, é o sertão de minha terra natal.

Aí campeia o destemido vaqueiro cearense, que à unha de cavalo acossa o touro indômito no cerrado mais espesso, e o derriba pela cauda com admirável destreza...
... Quando te tomarei a ver, sertão da minha terra, que atravessei há muitos anos na aurora serena e feliz da minha infância?
Quando tornarei a respirar tuas auras impregnadas de perfumes agrestes, nas quais o homem comunga a seiva dessa natureza possante?

De dia em dia aquelas remotas regiões vão perdendo a primitiva rudeza, que tamanho encanto lhes infundia.”.

Nota-se que Alencar retrata apaixonadamente a paisagem do sertão, mostrando características culturais, como o comportamento individual e o folclore, e características geográficas, como no trecho a seguir:

“Nessa época o sertão parece a terra combusta do profeta; dir-se-ia que por aí passou o fogo e consumiu toda a verdura, que é o sorriso dos campos e a gala das árvores, ou o seu manto, como chamavam poeticamente os indígenas.

Pela vasta planura que se estende a perder de vista, se erriçam os troncos ermos e nus com os esgalhos rijos e encarquilhados, que figuram o vasto ossuário da antiga floresta.

O capim, que outrora cobria a superfície da torra do verde alcatifa, roído até à raiz pelo dente faminto do animal e triturado pela pata do gado, ficou reduzido a uma cinza espêssa que o menor bafejo do vento levanta em nuvens pardacentas.

O sol ardentíssimo côa através do mormaço da terra abrasada uns raios baços que vestem de mortalha lívida e poenta os esqueletos das árvores, enfileirados uns após outros como uma lúgubre procissão de mortos.

Apenas ao longe se destaca a folhagem de uma oiticica, de um joazeiro ou de outra árvore vivaz do sertão, que elevando a sua copa virente por sôbre aquela devastação profunda, parece o derradeiro arranco da seiva da terra exhausta a remontar ao céu.

Êstes ares em outra época povoados do turbilhões de pássaros loquazes, cuja brilhante plumagem rutilava aos raios do sol, agora ermos e mudos como a terra, são apenas cortados pelo vôo pesado dos urubús que farejam a carniça”.

Outro autor do regionalismo foi Visconde de Taunay que tem como principal obra romântica “Inocência” que se passa no interior do Mato Grosso, local descrito como harmonioso, pacífico e ideal, se referindo a uma tradição clássica. Visconde, através de formas de tratamento, caracteriza os personagens e o típico jeito do sertanejo, como no trecho: “todo o dia, vendo a hora, nhá bate o queixo, nhor-sim”.

Inocência conta a história de amor impossível entre Cirino (médico) e Inocência: “cabelos longos e pretos, nariz fino, olhos matadores, beleza deslumbrante e incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca pequena e queixo admiravelmente torneado” e filha de Pereira, pequeno proprietário que exerce for vigilância sobre a filha e impossibilita a relação amorosa entre os jovens pois Inocência fora prometida em casamento à Manecão, um rústico vaqueiro da região (o casamento como acordo entre famílias era uma característica do interior, e assim, também apareceu nos romances regionalistas).
Visconde de Taunay
Taunay fez de “Inocência” uma das obras-primas do romance regionalista por seu conhecimento dos costumes do país, adquirindo em inúmeras viagens na condição de militar, e que em outros livros não era apresentado pelos autores não conhecerem o país. E comprometia a qualidade de obras regionalistas.

Para deixar a obra mais regionalista inda, o autor criou diálogos com a linguagem regional e natural dos camponeses: "Nocência", "Por que se tocou assim no quarto", "é bom não se canhar as-sim", "sestiando", "Nhor-sim", "quer mecê". Deve-se ressaltar que Visconde de Taunay também utiliza a linguagem culta e reforça o amor único e idealizado (característica romântica), que, por sua impossibilidade, leva Inocência à morte.
Taunay também usa a técnica de corte, o que faz com que o leitor queira continuar a leitura para saber o desfecho da trama.


Franklin Távora, outro autor importante no romance regionalista, escreveu uma grande obra chamada “O Cabeleira” (1876) que conta o passado de Pernambuco, através das aventuras do cangaceiro José Gomes, O Cabeleira, que se transformou pelo amor (o amor que regenera e purifica também era característica romântica). José, pela influência do pai, Joaquim Gomes, Teodósio, o astucioso amigo e outros comparsas, aterrorizou o Pernambuco em 1776, mas quando ele se apaixonou por Luísa, fogiu com ela e começou a se transformar, apesar de instintivamente ainda usar a violência.
Segundo Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Pontara “o texto procura levar o leitor a entender que circunstâncias ambientais contribuem para tornar José Gomes (o personagem principal) um bandido”. Esta obra foi muito importante , pois era a primeira ser situada no nordeste. O livro também dispõe de partes Naturalistas e outras Românticas, quando ele age por instinto, o que seria o Naturalismo, e quando ele age como um herói e o fato das mulheres serem todas boas e puras, o que seria o Romantismo (idealização da mulher).

Nota-se também que Távora mescla em algumas partes do texto a poesia, e a pesquisa que realizou acerca do cangaceiro atribui valor documental à obra, sendo destaque a caracterização da seca. O Cabeleira, mostra o nacionalismo desde o prefácio:
“As letras têm, como a política, um certo caráter geográfico; mais no Norte, porém, do que no Sul, abundam os elementos para a formação de uma literatura propriamente brasileira, filha da terra. A razão é óbvia: o Norte ainda não foi invadido como está sendo o Sul de dia em dia pelo estrangeiro. (...)
Temos o dever de levantar ainda com luta e esforço os nobres foros dessa região, exumar seus tipos legendários, fazer conhecidos seus nomes, suas lendas, sua poesias máscula, nova, vívida e louçã...”

Mas o nacionalismo não é apresentado apenas no sentido de qualificação d região, mas também como crítica à sociedade brasileira:
“A justiça executou o Cabeleira por crimes que tiveram sua principal origem na ignorância e na pobreza.
Mas o responsável de males semelhantes não será primeiro que todos a sociedade que não cumpre o dever de difundir a instrução, fonte da moral, e de organizar o trabalho, fonte de riqueza?”

A partir de "O Cabeleira", Hiroshi e Leandro Assis, decidiram escrever um roteiro para uma história em quadrinhos inspirados no personagem. A HQ foi publicada no início de 2007 editora Desiderata.

Franklin Távora também foi um ferrenho crítico de José de Alencar e do sucesso editorial e crítico do autor, acusando-o de não honrar os escritores do Norte, descuidando da região natal em sua carreira literária e também em ralação aos métodos de criação de Alencar em relação ao folclore, como se vê no trecho a seguir:

O conhecimento da língua indigena é o melhor criterio para a nacionalidade da litteratura,” diz-nos elle na sua carta final. Ora, como ha de conhecer essa lingua quem não penetrou nas tribus, quem não se achou em contacto com o povo, quem a não estudou nos tempos primevos, porque era impossivel fazel-o, nem mesmo nos tempos actuaes em que já o verdadeiro caracter indigena decahiu e se corrompeu? Ha de forçosamente estudal-a nas obras e diccionarios que nos deixaram os nossos predecessores. Pois bem: elle acha que “de quantas producções se publicaram sobre o thema indigena, nenhuma realisava a poesia nacional;” e quanto aos diccionarios é o primeiro a tachal-os de “imperfeitos e espúrios.” Ao proprio G. Dias nega o condão de realisador da poesia americana. Diga-nos quem puder e quizer: onde foi J. de Alencar buscar esse molde de poesia selvagem, fóra dos diccionarios, que “são espurios,” fóra das producções publicadas, que “não a realisam,” fóra dos modelos dos mestres que “só exprimem idéas proprias do homem civilisado, e que não é verossimil tivesse no estado de natureza?” No seu gabinete de improvisador”.

Características do Romance Regionalista

O romance regional surge na primeira metade do século XIX com a intenção de revelar paisagens e costumes pouco retratados nos antigas obras românticas. Os romances passam a exaltar agora aspectos específicos de cada região, revelando assim um lado exótico do país. Esses textos retratam o território nacional e dão ênfase aos grandiosos cenários típicos do interior do Brasil, construindo assim uma nova imagem da pátria.
Ainda recentemente independente, o Brasil procura definir a identidade de sua nação através de mitos que retomam e valorizam sua história. Para isso, cria-se uma personagem de valores dignos e heróicos promovendo ao público leitor o sentimento de amor à pátria. Tomando lugar do índio, o sertanejo passa a ser o símbolo do homem brasileiro mais utilizado pelos principais autores da época: José de Alencar, Alfredo d’Escaragnolle Taunay, Franklin Távora e Bernardo Guimarães. É importante ressaltar que mesmo o interior do Brasil não sofrendo tanta influência européia como os centros, as histórias continuam com elementos característicos da literatura romântica, baseadas no modelo europeu.
As obras são destinadas, como no período anterior, a classe média dos centros urbanos e são publicadas através de jornais em pequenos encartes conhecidos na época como folhetins. Com o tempo, o público começa a se interessar por esses romances, o que estimula a publicação de livros, favorecendo o desenvolvimento da cultura livresca.